O dragão chinês e os vinhos de Bordeaux

O empresário chinês chegou à França e almeja os melhores châteaux da região. No Ano do Dragão os vinhos de Bordeaux ainda serão os mesmos? 

Por Vinho dos Anjos 

Os vinhos franceses são afamados por carregar a sutileza, o detalhe e a harmonia em sua elaboração. Cada safra é cuidadosamente medida, no tempo, nas chuvas e precipitações, no sol e no amadurecimento das uvas.

Séculos de tradições familiares, passadas de pai para filho, refletem uma organização linear, algo matemático e preciso, admirado em todo o mundo em se tratando de vinhos franceses. O clima é incontrolável, tudo bem. Tanto é que o enólogo, mesmo com todas as “correções” possíveis após a colheita, já sabe que a chuva “fora de hora” ou a chuva esperada que não veio, colocará o seu vinho numa escala maior ou menor de qualidade. O céu é constantemente “vigiado” e, ao menor sinal de precipitações, tudo começa a ser estudado.

Na colheita, é grande o respeito pelo colaborador que neste período tem em suas mãos a joia preciosa, o fruto que definirá o néctar dos deuses, o vinho francês em sua mais nova e próxima safra.

As grandes redes varejistas da Europa e dos Estados Unidos, representadas pelos seus “agentes de degustação” e negociantes, vão a Bordeaux provar os vinhos e avaliar a safra em termos de valores compondo o seu preço final junto ao produtor e fixando o valor pela possível aceitação nos grandes mercados mundiais.

A essência adquirida ao longo dos séculos de cultivo e os valores e raízes de cada produtor, fixam-se no resultado final do vinho, como a impregnar sua marca e seu registro na questão intangível e sutil da história de cada família, de cada nome e marca, principalmente na França.

Foi este cenário que atraiu os olhos da China. Com gosto apurado e conhecimento de mercado adquiridos ao longo dos anos, os chineses vislumbram a França – mais precisamente a região de Bordeaux – como um grande negócio para seus consumidores em ascensão financeira. E os principais alvos de seu interesse são os châteaux clássicos e localizados nas melhores regiões vinícolas da região.

Tendo aprendido a degustar e apreciar os vinhos de qualidade inegável, e com a crescente expansão dos negócios em nível mundial, a China estende seus horizontes nos mais afamados e pontuados vinhos, suas vinícolas e Chateaus.

Já faz alguns anos que ouvimos falar sobre as aquisições na França, de produtores, vinhos e renomados Châteaux. Neste momento de grande crise nos países europeus, com altíssimas taxas de desemprego e ondas de desequilíbrio financeiro, as tradições seculares dão lugar a uma nova perspectiva, que muda valores, heranças e história, levantando dúvidas e incertezas tanto em apreciadores dos vinhos de Bordeaux espalhados pelo mundo, quanto nos próprios franceses, ainda os grandes consumidores dos vinhos lá produzidos.

A China também tem suas tradições seculares mas, ao longo da história, não percebemos em sua expansão o respeito pelas tradições dos outros países.

Quando se trata de negócios, a parte monetária não respeita divisas, tradições ou hábitos. O empresário chinês, numa crescente somatória digna do melhor capitalismo, e num verdadeiro antagonismo ao regime adotado pela grande potência, chegou à França.

Não obstante todas as medidas protecionistas adotadas pelo governo francês é inegável que veremos mudanças significativas no cenário que abrange os vinhos franceses, particularmente os de Bordeaux.

 

O dragão bebe vinho

A China, incluindo Hong Kong, tornou-se o maior importador mundial de vinhos de Bordeaux em 2010, trazendo 33,5 milhões de garrafas para o país, o que custou € 330 milhões de acordo com dados do CIVB (Conseil Interprofessionnel du Vin de Bordeaux).

Bordeaux responde por cerca de 30% de todas as importações de vinhos franceses para a China, e os últimos números refletem um aumento de 98% para a China e de 126% para Hong Kong. Os números vêm crescendo, assim como os leilões de vinhos no país, com sucesso de 100% nas vendas e aquisições de produtos nunca antes imaginados. Informações como essas revelam a dimensão do mercado, suas perspectivas e o tamanho do capital envolvido.

Enquanto isso, as manchetes alarmistas na França sugerem que o mercado está ficando perigosamente dependente de um só país, com seus abastados investidores e apreciadores.

O governo da França dita regras para proteger o mercado, incluindo barreiras protecionistas, mas a intensão do grande investidor chinês é encurtar a cadeia entre o produtor e consumidor, uma vez compradas as propriedades.

O dragão vai às compras

As primeiras compras de terras e châteaux na França pelos chineses começaram em 2008, com o Château Latour Laguens. Em março de 2011, foi a vez dos mais prestigiados Cru Bourgeois, nas propriedades de Château Ducos Laulan, no Médoc.

Hoje já existem mais de doze châteaux bordaleses nas mãos dos chineses, e vários outros em negociações. E a venda dos vinhos – outrora distribuídos para 40 países – passou a ser totalmente focada na China. Até mesmo os rótulos e embalagens passaram por uma adequação para atender o mercado chinês em ascensão.

Como aconteceu em outros mercados, uma estrela de cinema, jovem, consagrada, rica e muito popular na China, Zhao Wei, comprou uma propriedade em St. Emilion. Notícias revelam que a atriz pretende manter a equipe atual no processo de vinificação do Château e que vai investir na modernização da propriedade.

É verdade que existem produtores franceses em grandes apuros financeiros, e que o “Dragão Chinês”, surge como a grande “tábua de salvação” em meio à grande crise instalada na Europa e nos países vizinhos. Notadamente, bens de luxo vêm sendo avidamente procurados pelos abastados chineses, com seus novos hábitos de consumo e sedentos por novidades. Vislumbra-se um novo “status social” e o vinho é um bem facilmente adquirido e que está no alto da cadeia dos produtos de luxo.

Que fique claro que não há neste texto preconceito algum em relação ao povo chinês, sua vasta cultura, seu país e suas tradições. Trata-se de uma pausa para analisar o significado de uma expansão de mercado e do alto “poder de fogo” da China para os negócios e investimentos.

As perguntas que não querem calar são: “ O vinho francês será o mesmo com novos donos?” “Até que ponto as tradições regionais e familiares, serão mantidas?”

Veremos vinhos franceses by China, numa nova concepção em vendas e distribuição?

Perguntas que só o tempo e os especialistas em vinhos poderão responder.

Mas lembre-se, 2012 é o ano do Dragão e este pode ser apenas o começo de uma nova concepção mundial para o vinho francês…

Ilustrações: Tony J. Kudo

 

Seminário: Bourgogne no Brasil para profissionais do vinho

Será um Wine Tour pelos vinhos da Borgonha e acontecerá em São Paulo, no dia 17/04 e no Rio de Janeiro, no dia 19/04.

O Seminário é somente para profissionais e as vagas são limitadas.

Em paralelo haverá degustação de vinhos, com 30 produtores.

Local:

Em São Paulo: Hotel Tívoli – Alameda Santos, 1437

No Rio: Hotel Sofitel Copacabana – Avenida Atlântica, 4240

Horário: Seminário das 14:30 horas ás 16:30 (Vagas Limitadas) – Degustação: Das 14:30 ás 19:00 horas

Os vinhos de Bordeaux “aceleram” conquistando o Brasil e o público

Agora que todos os meus amigos, blogueiros e jornalistas já falaram deste evento, vou fazer minhas considerações.

Realmente, tivemos uma oportunidade única e especial neste último dia 07/03. Nas provas que se seguiram de vinhos da safra 2009, o resultado foi no mínimo gratificante.

Apesar da safra, em minha opinião modesta, ainda ser jovem e determinar longevidade, o contato com os produtores, experts e apreciadores não poderia ter sido melhor.

Vinhos expressivos, alguns delicados, outros mais tânicos, vários ainda pedindo tempo na garrafa, outros prontos para serem sorvidos devagar, quase em pensamento…

Bem se vê que a França ainda domina o vasto mundo dos vinhos, na tradição e no cuidado, na apresentação e no resultado final.

Oportunidade que sem dúvida o mercado apreciou e aplaudiu, tanto pela iniciativa, como pela elegância deste evento.

Mas em se tratando dos vinhos, vamos citar alguns.

O Angelus, do Château Angélus se apresentou exatamente como eu esperava, elegante, harmonioso, nos aromas e na boca, com um final marcante. Como a própria ficha técnica diz, é um vinho que reflete a paixão do enólogo em toda a sua essência, em oito gerações.

Era de se esperar que o Blog Vinho dos Anjos tivesse com este vinho, uma identificação. Que não ficou apenas no nome, mas em toda a complexidade apresentada. É uma das “jóias” de Saint-Émilion.

Corte das uvas 50% Merlot, 47% Cabernet Franc e 3% Cabernet Sauvignon, estagiando de 100% de 18 a 24 meses em barricas novas de carvalho francês.

Mas é tão difícil falar especificamente de um só vinho, que seria injusto da minha parte, citar apenas alguns, no universo de coisas boas provadas.

Deixo assim algumas fotos abaixo, que refletem alguns vinhos e o sucesso de público neste grande evento.

 

Viña Koyle e seus vinhos biodinâmicos: Desvendando os segredos da fruta

Já faz um tempo que tenho verdadeira admiração pelos vinhos deste produtor, desenvolvidos magnificamente pelo seu enólogo e proprietário Cristóbal.

Para quem ainda não conhece, trata-se de um produtor biodinâmico localizado no Chile. A vinícola se caracteriza pela busca da fruta nos vinhos, em sua essência, seria, a meu ver, o chamado “Terroir Original”.

É admirável a paixão como Cristóbal fala de seus vinhos, de seus métodos de condução, e da sua busca incansável por produtos que caracterizem toda a sua originalidade.

Seus vinhedos têm ao longo dos anos, demonstrado cada vez mais complexidade nos vinhos, adquirida perceptivelmente pelo avanço das raízes no solo, penetrando e absorvendo elementos novos que acabam por fazer a diferença em cada safra.

Estive na Gran Cru esta última terça feira (08/11/2011) participando da degustação de dois produtores, a Koyle  do Chile e o Chateau CGR da França.

A Koyle trouxe suas novas safras. Fiquei sensivelmente impressionado pelo seu Syrah Royale. Elegante, complexo, frutado, aromático, muito, mas muito expressivo. Claro que os outros vinhos degustados também se apresentaram divinos. Mas sempre há um que se destaca dos demais, e neste caso, foi o Syrah.

 

Syrah Royale, sensacional

 

Conversando com Cristóban, acabei perguntando de seus novos projetos em relação á vinhos brancos. O que ele me respondeu que há sim um projeto em desenvolvimento em uma determinada região, passando por fazendo testes.

Tudo está ainda em fase de experimento. Revelou-me inclusive as uvas (uma tinta e uma branca), que infelizmente não posso revelar. Fiquei muito animado, porque quando há novos projetos, há novos vinhos e vindo deste produtor, serão com certeza admiráveis.

Provei também os vinhos do produtor francês que eu não conhecia. Foram seis vinhos da região de Bordeaux. Interessantes e bem elaborados, tendo um custo X benefício excepcional!

 

Chateau CGR

 

Abaixo a relação de vinhos provados de cada produtor, e claro, o Syrah da Viña Koyle:

– Koyle Reserva Cabernet Sauvignon 2009

– Koyle Reserva Carmenére 2009

– Koyle Reserva Syrah 2009

– Koyle Royal Syrah 2008

Do produtor Chateau CRG:

– Chateau Ramafort 2005

– Chateau Cardus 2007

– Chateau Grivières 2005

– Chateau Malaire 2007

– Chateau Vivier 2007

– Chateau La Cardonne 2005

Se quisersaber mais sobre biodinâmicos, consulte os links abaixo e veja matérias já publicadas:

– Degustação: Os vinhos biodinâmicos como estilo de vida: http://migre.me/67sqL

(No final do post há mais 2 links sobre vinhos biodinâmicos)

Sobre o produtor Koyle, veja matérias anteriores:

– Vinhos de expressão no 5º Encontro do Somellier da Grand Cru: http://migre.me/67ski

Em breve você encontrará os vinhos da Koyle na Loja Virtual da Vinnobile, acessando: www.vinnobile.com.br ou pelos telefones: (11) 5073-0702 e (11) 5073-0725.