“A lentidão contemplativa integra-nos no meio e pode ser o refúgio de ideias brilhantes que nos ajudam positivamente no nosso proceder”.
Falar desse tema é coisa séria, principalmente em um momento do vinho que tudo caminha pelas redes sociais.
A questão é sensorial e trata-se de respeitar a parte latente em nós, o movimento da alma, a parte em nós que busca o natural, as origens, o que nos é tradicional e importante.
Parte de nós não olha o sol, o céu, as nuvens. Não sente mais o vento no rosto admirando uma bela paisagem. Estamos todos buscando a melhor foto, o melhor ângulo e esquecemos de nós mesmos no contexto das coisas. Nosso eu em conjunção com o todo.
Somos absorvidos pela tecnologia, e somos cobrados por ela. Temos pressa, esta é a verdade. Uma pressa que nos cega para as reais oportunidades.
Mas onde estaria esta questão nos vinhos? Qual seria a preocupação?
A questão não é mudar as coisas e a importância delas, é nos fazer refletir. Ver a verdade e qualidade onde elas realmente estão.
A busca por um vinho orgânico ou biodinâmico me parece parte disso. Nesta busca pela emoção das coisas, tentamos resgatar o que de melhor elas têm. Faz parte deste movimento.
Na alimentação a Slow Food mudou muita coisa. Possibilitou se provar em pequenas partes, as delícias da culinária, garantindo que o alimento chegue fresco e seja utilizado o produto de cada estação. Isso se levarmos ao pé da letra o conceito.
A questão aborda o fato de se utilizar os recursos próximos, o que plantamos, o que cultivamos e os animais que criamos para a alimentação. É um retorno a simplicidade.
Não gosto de coisas radicais, mas entendo isso tudo, este movimento de “resgate” não de valores, mas de tempo, de sabores, de ideais.
A questão me pega em um momento particular da vida, onde valorizo o ser em detrimento do ter. Onde a paz é mais importante do que o carro do ano. A saúde é primordial para a realização dos sonhos e em cada momento busco o belo e o especial.
Coisas talvez que o tempo tenha amadurecido, não sei, ou talvez a constatação de que tudo era mais simples e ao mesmo tempo mais saboroso.
Provo as frutas e algumas são sem sabor. Provo vinhos e muitos parecem iguais, metodicamente elaborados para atender uma demanda uniforme, padronizada. Mas vinho é experiência, e continuo buscando.
A surpresa é encontrar algo que entusiasma, alegra, me faz sorrir. Aí sim percebo que encontrei o passado, as reminiscências, o gosto e o verdadeiro prazer.
Quero mudar, acho que a mudança será benéfica, mas quero sentir a mudança nas pessoas e isso me parece impossível diante de tudo.
Mas mesmo sem elas, tento olhar menos para o relógio da vida e ainda sinto o cheiro do mato cortado que teima em me revelar todo o esplendor da natureza.
Saúde!