Gastronomia, vinhos, espumantes brasileiros e um pouco de história

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Em 1870, o governo do Rio Grande do Sul criou colônias no alto das serras a fim de receber imigrantes alemães, que viriam para completar a lacuna de mão de obra barata que o Brasil precisava com o fim da escravatura, além de ocupar regiões remotas do Estado. Porém, com as más notícias que corriam na Alemanha, relatando as dificuldades dos colonizadores, o número de colonos alemães diminuiu drasticamente. Isso obrigou o governo a procurar uma nova fonte de imigrantes: os italianos.

Se aproveitando das péssimas condições que se encontravam os europeus, graças à Revolução Industrial e ao êxodo rural, o Brasil fez promessas sobre uma terra de fartura, oportunidades e felicidade.

Á partir de 1875 chegaram os primeiros grupos de italianos no Rio Grande do Sul, vindos de Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto, se instalando na região da Serra Gaúcha.

A maioria dos italianos no entanto, encontrou dificuldades em função das promessas não cumpridas por parte do governo brasileiro e pensavam em ir embora. Mas a falta do dinheiro os prendia aqui.

A produção de vinho, que era feito em pequenas quantidades apenas para a população das colônias, logo começou a ganhar mercado, com a força do trabalho dos italianos, dando origem às primeiras cantinas.

Introduziram na culinária gaúcha pratos derivados de sua cultura, como as polentas, massas como os tortéis com recheio de moranga e o galeto ao primo canto.

A introdução do cultivo de vinho na região tornou a vinicultura a principal economia dos colonos italianos e posteriormente muito importante do Rio Grande do Sul, também influenciando a culinária gaúcha.

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Galeteria italiana

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Galeto ao Primo Canto

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Sagu. Típico!

O Galeto ao Primo Canto teve sua origem na região de Caxias do Sul. É um prato tradicional da culinária gaúcha. Chega a ser considerado um dos três principais pratos do Rio Grande do Sul.

Acredita-se que a origem deste prato remonta aos hábitos alimentares dos colonizadores, que costumavam preparar passarinhadas nos dias de festa. Com a proibição da caça aos passarinhos, o galeto foi adotado como alternativa de consumo e preparo.

O primeiro restaurante a comercializar este prato foi a Galeteria Peccini, fundada em fevereiro de 1931 em função da primeira Festa da Uva. Desde então, diversos restaurantes, as chamadas galeterias, com o sucesso do prato, se espalharam pelo estado do Rio Grande do Sul.

O Galeto ao Primo Canto é o frango jovem, com aproximadamente 25 dias, assado sobre a brasa e na maioria das vezes servido com muitos outros complementos, como a polenta frita, salada de radiche e espaguete com vários molhos.

Acredita-se que a “comilança e fartura” italiana talvez sejam o fruto de uma época de restrições e dificuldades vividas pelos imigrantes, quando da colonização em terras brasileiras, sendo uma forma de suprir seu lado psicológico da falta de alimento e restrições.

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Espumante: Sucesso nacional e no exterior

Caxias do Sul

Caxias do Sul é a maior cidade da Serra Gaúcha e conhecida pela alta qualidade de suas vinícolas. A tradicional Festa da Uva ocorre bienalmente em fevereiro, nos Pavilhões da Festa da Uva. O evento retrata a colonização italiana através de desfiles e espetáculos regionais, além de contar com exposições de uvas e vinhos, cursos de degustação e demais atividades festivas.

Mantém até hoje as origens e tradições trazidas pelos imigrantes italianos, sendo um local muito propício para apreciar massas, galeto e outras delícias da culinária e para apreciar bons vinhos, produzidos na cidade e na região.

Os passeios guiados ás vinícolas são a grande diversão e aprendizado, oferecem degustações além de mostrarem como é a produção dos vinhos, espumantes e metodologia de trabalho. É possível visitar desde o parreiral até o processo de elaboração e harmonização de vinhos com a gastronomia.

Bento Gonçalves

Bento Gonçalves está entre as 10 maiores economias do Rio Grande do Sul. A cidade destaca-se por ser considerada a Capital Brasileira do Vinho. As diversas vinícolas da cidade e os eventos ligados à bebida, como a Fenavinho e a Feavin atraem milhares de turistas por ano.

Durante a Fenavinho os visitantes podem provar e comprar vinhos, participar de jantares harmonizados e temáticos conduzidos por renomados chefs, participar de cursos de degustação e assistir aos espetáculos culturais. Já a Feavin é mais voltada para o público empresarial, reunindo empresários, negócios e troca de experiências do ramo, divulgando novidades do setor.

Em Bento, a boa culinária é também herança dos imigrantes italianos. Vinícolas, galeterias e casas de massas estão espalhadas por toda região. O Vale dos Vinhedos, que fica no perímetro rural da cidade, é uma mistura de vinícolas, paisagens exuberantes e gastronomia. Mesmo nas pequenas propriedades rurais é possível encontrar vinhos de personalidade e que nos últimos anos conquistaram destaque nacional e internacional pela qualidade e seus produtos diferenciados.

Garibaldi

Apesar da colonização italiana, Garibaldi também teve forte influência da cultura francesa, transmitida pelas congregações religiosas de origem francesa, responsáveis pela educação dos habitantes durante décadas.

Hoje Garibaldi é conhecida como a capital nacional do champanha, sendo o maior produtor da bebida no Brasil. A família Peterlongo em 1913 elaborou o primeiro champanha brasileiro, em Garibaldi.

Durante quatro décadas, o Brasil conheceu um único champanha elaborado aqui. Família de italianos que chegaram do Tirol, o champanha Peterlongo conquistou definitivamente o mercado brasileiro a partir de 1930. Foi a bebida servida pelo Presidente Getúlio Vargas na ocasião da visita da Rainha Elizabeth e seus convidados ao Brasil.

Engenheiro e agrimensor, Manoel Peterlongo vindo com sua família de Trento, no Tirol italiano, ajudou a fazer o traçado da cidade de Garibaldi, produziu o primeiro champanha do Brasil. O produto era obtido por meio de misturas de vinhos e submetido a uma fermentação em garrafas e era o sonho maior deste técnico, que desejava produzir em Garibaldi um vinho que tivesse a mesma qualidade daquele que estava habituado a beber na Europa.

O sonho de Peterlongo começou a criar suas próprias raízes em 1913. Utilizando-se de um processo natural de fermentação (champenoise), criado pelo abade francês Don Pérignon, onde o vinho-base era colocado nas garrafas, juntamente com a adição de licor de tirage e leveduras selecionadas, produziu o primeiro champanha brasileiro. No mesmo ano, a qualidade do novo produto já era reconhecida publicamente, ao ganhar a Medalha de Ouro na Exposição de Uvas, na qual foi gravado: “Bendita a terra a que este sangue aquece”.

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As uvas e as paisagens exuberantes

As paisagens na região são exuberantes, o clima agradável e o ar limpo.

Além da cultura do vinho, é possível conhecer os hábitos, a religião, a gastronomia, as manifestações culturais, que caracterizam a formação da região e os colonizadores, bem como experimentar a magia em cada taça, em cada brinde em cada prato saboreado.

E viva a gastronomia italiana, os colonizadores e os bons vinhos. Saúde!

Terra Bela Turismo: conhecer as regiões vinícolas com eles é diversão garantida e muitos vinhos

Terra Bela

Já viajei algumas vezes para o sul com a Terra Bela. Em todas as oportunidades fui sempre muito bem atendido pelo Douglas, que não poupou informações sobre os vinhos, as regiões e os produtores.

A Terra Bela Viagens é uma empresa sediada na serra gaúcha e há 13 anos dedica-se ao enoturismo, sendo pioneira na elaboração de roteiros exclusivos com foco no vinho e na gastronomia na região serrana do Rio Grande do Sul.

Os programas incluem visitas diferenciadas ás vinícolas de diversas microrregiões produtoras da serra gaúcha, jantares elaborados por chefs locais, muitos deles harmonizados com vinhos.

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Os almoços são inesquecíveis, alguns elaborados pelas “mammas” da colônia italiana utilizando-se de receitas tradicionais e passadas de geração á geração nas famílias, são um atrativo á parte, além de trazerem aspectos  culturais relacionados a vitivinicultura.

Distinguindo-se do turismo de massa, os roteiros regulares agregam grupos pequenos onde não só a qualidade das visitações e dos eventos é melhorada como também há uma grande integração do grupo com muitos brindes á mesa.

Todo tipo de viagem é válido a uma região vinícola. A vantagem de se utilizar a Terra Bela como uma empresa organizadora, é o acesso que se tem a locais e eventos criados especialmente para a ocasião e para o grupo, alguns seriam dificilmente acessíveis sem esta intermediação.

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Está pensando em conhecer a região vinícola da Serra Gaúcha?

A dica é entrar em contato com a Terra Bela para saber das programações oferecidas no período em que você planeja viajar e desfrutar deste prazer único: Os vinhos!

Terra Bela Viagens

www.terrabela.com.br

Contato: turismo@terrabela.com.br

Tel.: (54) 3292-1461

Na Chandon, acompanhando o processo produtivo. Uvas para os espumantes

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A Chandon é sem dúvida hoje, um dos grandes produtores de espumantes do Brasil.

Empresa que faz parte do Grupo LVMH (Louis Vuitton e Möet Hennessy), se instalou em 1973 no município de Garibaldi, na Serra Gaúcha, e se especializou unicamente na produção de espumantes, colocando de lado os vinhos tranquilos e trabalhando os nichos de mercado.

Sua estrutura física e de maquinário é de fazer inveja a qualquer produtor. Mantém controle absoluto nos processos de produção, desde a qualidade das uvas, sua recepção, análise dos açucares, determinação do momento certo da colheita e em toda a cadeia produtiva.

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Riesling Itálico e recepção de uvas

Acompanhando a recepção das uvas e o processo produtivo na elaboração dos vinhos, tive a grata oportunidade de acompanhar a prensagem da uva Pinot Noir e experimentar apenas o suco pós-prensagem.

A coloração ainda tem intensidade, percebe-se os aromas da fruta e o gosto adocicado e agradável, bem como na parte visual, uma turbidez e falta de transparência, ainda fruto de um líquido a ser trabalhado na elaboração dos espumantes.

Prensagem

Área de prensagem / Saída do suco prensado

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Suco da uva Pinot Noir apenas prensado

Na Chandon o método adotado para a elaboração dos espumantes é exclusivamente o método Charmat, onde ocorre a segunda fermentação nos tanques de aço inox, com temperatura controlada.

Provei também o mosto fermentado, porém sem filtragem. O espumante neste estado já apresenta muitas das suas características finais.

É com o assemblage de várias colheitas e safras que o espumante é preparado e obtém-se o seu estilo, sem ser safrado, porém mantendo-se um padrão nos aromas e na parte gustativa, preservando a concepção original de cada produto em cada linha.

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Espumante quase pronto

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Precipitações observadas antes da filtragem

Na segunda fermentação, vem ás borbulhas, a picância. O espumante está pronto para envelhecer, dentro de cada conceito e tempo determinado, chegando ao mercado após os últimos detalhes como o licor de expedição e rotulagem.

Hoje a linha de produtos da Chandon é composta de seis espumantes, como segue:

– Chandon Réserve Brut: Riesling Itálico / Chardonnay / Pinot Noir, com 10 G/L de açúcar.

– Chandon Brut Rosé: Riesling Itálico / Chardonnay / Pinot Noir, com 14 G/L de açucar.

– Excellence Cuvée Presige: Chardonnay / Pinot Noir, com 7 G/L de açucar.

– Excellence Rosé Cuvée Prestige: Chardonnay / Pinot Noir, 9 G/L de açucar.

– Chandon Riche Demi-Séc: Riesling Itálico / Chardonnay / Pinot Noir, com 35 G/L de açucar.

– Chandon Passion: Pinot Noir / Malvasia de Cândia / Moscato Canelli, com 35 G/L de açúcar.

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A linha de espumantes na taça…

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…e nas garrafas

Em cada espumante, uma proposta diferente para agradar o consumidor brasileiro (sim porque hoje toda a produção é destinada para o mercado interno) e suas crescentes exigências.

A Chandon e o consumidor brasileiro estão em constante aprendizado, garantido pelos feed backs em cada garrafa aberta, em cada degustação.

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Vinhedo da Chandon

Viajar para Garibaldi, garante uma bela oportunidade de conhecer a vinícola e seus produtos.

Viva o vinho brasileiro!

Almir Anjos

Quando os vinhos em um mês podem fazer toda a diferença

Sou um entusiasta do vinho e falar de vinhos para quem tem paixão por eles, soa como redundância e é o mesmo que “chover no molhado”, o que não deixa de ser interessante.

Vou publicar uma série de quatro textos relacionados á minha visita á quatro vinícolas da região de Garibaldi, no Ripo Grande do Sul, tendo iniciado este ano e finalizado o mês de janeiro, com atividade intensa e muitas degustações prazerosas e sempre de muita soma de conhecimentos novos.

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Logo no ano início do ano tive a primeira degustação no La Recoleta, do Selo 7 Sommeliers, especificamente de 13 roses (Ver postagem do Selo relacionada no link:

http://selo7s.wordpress.com/2013/01/28/primeira-avalaiacao-do-selo-7-s-de-2013/

Em seguida veio a oportunidade de visitar “in loco” e em três dias, quatro vinícolas do sul, dentre elas a Chandon, Cave Geisse, Almaúnica e Casa Valduga, acompanhando os trabalhos na elaboração do espumante nacional nesta época da colheita, degustando vários deles, bem como também degustando os chamados vinhos tranquilos (Brancos e tintos).

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Chandon / Cave Geisse / Almaúnica / Casa Valduga

E ainda, nesta última semana que terminou o mês de janeiro, participei de mais duas degustações imperdíveis, uma treinando a parte sensorial que uniu música as músicas das “Quatro estações de Vivaldi”, vinhos da Ventisquero e gastronomia. Tudo isto na Loja da Bacco´s, em Higienópolis.

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E finalizando com o lançamento para a imprensa e lojistas dos vinhos da Bodega Cuarto Domínio, trazidos pela Ravin Importadora, os na 4ª geração da família Catena, em degustação realizada no Terraço Itália no último dia 31/01.

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Assim, o que parecia ser inicialmente um mês tranquilo e de férias, passou a ser intenso e de muito, mas muito aprendizado.

Que o ano que passa rapidamente (Já estamos em fevereiro), possa trazer a todos nós, os bons vinhos, os bons momentos e o respeito a natureza e aos homens.