Enquanto houver sol…

Sun III

O sol é com certeza o componente principal no desenvolvimento da uva. Nele se concentra a vida e a evolução para a concentração de todas as propriedades que farão da uva, a matéria prima dos bons vinhos.

A maturação das uvas talvez seja a parte mais importante em todo o processo para a elaboração dos vinhos. Sim, porque sem o devido amadurecimento não há o açúcar e sem o açúcar não há a transformação em álcool.

Olhar o céu perto da colheita, sentir as nuvens ou a aproximação de chuvas, tudo isto poderá favorecer a que a qualidade final esteja de acordo com o teor de açúcar na uva, sem o “inchaço” causado por uma eventual precipitação de água.

Tem a questão também do açúcar residual (Pós-fermentação) que pode ao gosto do enólogo, diferenciar seu vinho, trazendo a maciez ou um sabor por ele desejado.

Outro fator é o índice de acidez desejado, também influenciado pela qualidade da uva na maturação.

Claro, o cuidado para que a uva não amadureça demais também é uma preocupação. Imagine a uva já no transporte começar seu processo de fermentação. Bagos “estourados” e calor seria uma combinação pouco desejada.

Fatores que só tendem a estragar a qualidade dos vinhos.

Sun

A exposição ao sol revela o cuidado no plantio, quando as folhas são ou não podadas para que absorvam a luz e processem seu crescimento.

Ao observarmos a luz que incide nas plantações pegadas a rios, observamos que além da incidência no próprio parreiral, há a incidência indireta proveniente da reflexão: Sol, rio, parreiral.

Há de se observar o “terroir” em cada caso e a combinação destes fatores para a obtenção de melhores e maiores resultados.

Ou seja, enquanto houver sol, teremos bons vinhos!

Sun II

 

 

 

 

 

 

 

Os vinhos, os dias de chuva e a introspecção

 

Falar em vinhos quando o céu está escuro, quase como noite, desabando sobre nós, talvez seja uma das coisas boas deste momento. O som da chuva que bate nas janelas, das casas, dos carros, confundindo a cidade, iluminando as ruas com os faróis, nos remete o recolhimento.

A introspecção faz parte dos dias cinzentos. Amadurecemos as idéias, repensamos conceitos, corremos como loucos ao trabalho. Inevitavelmente molhamos a barra da calça, mesmo com o guarda-chuva.

E neste vai e vem de pessoas, na luta diária por seu espaço, por sua melhoria, por suas conquistas no trabalho, o tempo nos pede calma.

A calma que a própria chuva proporciona pela parada repentina daquilo que nos enchia os olhos: O amanhecer de um dia esplendoroso de sol.

Olhamos neste instante nosso “sol interior”. E nos perguntamos: Ele brilha?

Nesta profusão de pensamentos, emaranhados pelas cobranças diárias, refletimos, mudamos, nos percebemos e sentimos o pulso, a respiração, a vida em sua plenitude.

Neste instante, ao cair da tarde, contemplando o dia que se vai, mais um dia em nossas vidas, olhamos o horizonte e pedimos: Que os dias sejam cheios de luz!

Mas onde estaria o vinho neste instante? Poderia ele preencher os vazios dos corações apertados? Poderia ele penetrar na nossa consciência e como um “beliscão” nos acordar para o momento de vida? Acredito que sim.

Utopias são as coisas sonhadas que não podem ser realizadas. Quando nos propomos ao simples, nos propomos ao momento que pede reflexões. Pede enxergar o outro, pede “abrir os olhos”.

Respiramos e absorvemos o todo em sua essência e toda a sua magnitude, é a vida nos chamando, não para as conquistas materiais, mas para as conquistas da alma, que são eternas e impregnam em nosso ser.

Sempre digo: “Viver implica em enfrentar os desafios, ter a capacidade de buscar de forma única, particular, mas assertiva, dedicada e confiante”. Vivemos o presente com os olhos deitados no futuro. Quando o presente em um segundo já se foi, e não percebemos.

 

Ah, mas os vinhos nos proporcionam esta reflexão, porque afinam os sentidos, nos convidam, à observação, à contemplação e estejamos acompanhados ou sós, sabemos que um horizonte de possibilidades nos aguarda.

E a chuva cai lá fora…