Quando o valor da rolha se transporta e se revela na qualidade do vinho

Cortiça

A rolha de cortiça é mais do que um simples vedante esta e outras conclusões surgiram dos participantes do evento Neuroenological Tasting: The Grand Cork Experiment, conduzido pela Bompas & Parr, em colaboração da Apcor com a expert em experiências multissensoriais inglesa.

O evento se realizou no eclético bairro londrino do Soho e teve como objetivo a realização de uma pesquisa do psicólogo e professor Charles Spence, do Cross modal Research Laboratory da Universidade de Oxford.

“É impossível não sorrir quando ouvimos o espocar de uma rolha”, diz Sam Bompas, que, junto com Harry Parr, levaram conceitos de marketing e arquitetura para suas performances relacionadas com alimentos em todo o mundo.

Os participantes do Neuroenological Tasting foram levados a uma sala confortável, onde tomaram contato com as qualidades da cortiça ao som de música agradável. Levados a outra sala, puderam conhecer a cortiça em estado puro, como a casca do Quercussuber (o sobreiro), tocá-la, cheirá-la, observar seu comportamento físico. Do tato à audição, da visão ao olfato e ao paladar, cada participante pôde conhecer a cortiça em seus aspectos ecológicos, assim como de sua ligação histórica com o vinho.

 A percepção positiva da rolha não é um fenômeno isolado nem criado a partir de uma experiência sensorial apenas. Ao contrário, ela reforça o que as pesquisas dizem: o consumidor entende que um vinho com rolha de cortiça tem mais qualidade. Na China, levantamento mostrou que 96,8% dos consumidores acreditam que a cortiça melhora o vinho, em um país em que 95% dos melhores vinhos à venda no mercado são fechados com rolha de cortiça. Na Espanha, 95% dos consumidores preferem seus espumantes fechados com rolha de cortiça também. O instituto Opinion Way, em apuração realizada junto aos consumidores franceses, no primeiro semestre de 2017, apontou que 83% deles preferem seus vinhos fechados com rolhas de cortiça.

O experimento conduzido pelo professor Charles Spence, da Universidade de Oxford, pretendia saber se o que ouvimos pode nos influenciar a formar uma expectativa. No caso, tratou-se de saber, por meio de um estímulo sonoro, como o espocar de uma rolha de cortiça, era capaz de trazer sensações imediatas. Para tanto, usou dois vinhos de qualidade semelhante, cujos rótulos estavam encobertos, que ora estavam numa garrafa com rolha de cortiça, ora estavam numa garrafa com rosca de alumínio (screwcap). Se, no início, o som era o único estímulo, o visual (a abertura da garrafa na frente dos participantes) também foi incorporado na fase seguinte.

Ao todo, foram 140 participantes, de faixa etária abrangente (18-25, 25-35, 35-45 e mais de 45 anos de idade). No grupo havia de leigos aos que se consideravam bons conhecedores. Tanto no teste sonoro, como no que incluiu o visual, a maioria apontou o vinho da garrafa com rolha de cortiça como de melhor qualidade (mesmo quando os tipos de abertura foram invertidos, sem conhecimento deles, obviamente).

Em resposta à questão sobre a preferência pelo tipo de fechamento de garrafa, 113 disseram preferir cortiça, 13 optaram pela screwcap e 14 não souberam responder.

Outro resultado relevante da pesquisa foi a associação do espocar da rolha não só com a qualidade, mas com o tipo de humor e o clima de celebração. A cortiça remete à celebração, conforme atestou a pesquisa quando perguntou qual dos vinhos provados eram mais apropriados às festividades. Quando perguntados se, naquele momento, estavam propensos à celebração, o som da rolha de cortiça foi fator de influência no comportamento e na resposta dos participantes.

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Para o especialista em vinhos e embaixador da cortiça de Portugal no Brasil, Carlos Cabral, o casamento entre o vinho e a rolha não tem prazo para terminar. Pois não há nada mais charmoso do que abrir uma garrafa e ouvir o espocar de uma rolha de cortiça.

 Pesquisas atestam, a tecnologia que evolui dia a dia comprova, e tudo conspira para um futuro ainda mais promissor. O secular “casamento” entre o vinho e a rolha de cortiça, que já dura quase trezentos anos, tem tudo para continuar naquele clima de “felizes para sempre”. Isto quem diz é o especialista em vinhos e embaixador da cortiça no Brasil, o renomado professor Carlos Cabral.

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Embora a cortiça já fosse usada como um vedante natural desde o Egito, Cabral lembra que foi no século XVIII, quando o monge Dom Pérignon desenvolveu seu vinho espumante, o champanhe, que se tornou imperativo buscar um vedante que pudesse preservar o gás da bebida. “Na época, usavam-se pedaços de madeira para tapar os gargalos das garrafas, que começavam a ser produzidas. Dom Pérignon percebeu que era necessário algo mais eficaz. Mandou padronizar os gargalos, introduzir a rolha de cortiça e colocar um arame em torno delas para impedir que escapassem da garrafa”, ensina.

Cabral não vê risco de crise na relação entre a cortiça e o vinho. “É um casamento feito para durar para sempre! A rolha faz parte da alma romântica do vinho, ela é a testemunha de uma longa vida na garrafa e, mesmo após a sua utilização, vai para algum lugar especial. Cada rolha conta uma história.” Mesmo em relação aos outros tipos de vedante, Cabral não vê problemas. “Sempre alguém vai inventar uma coisa nova, mas nada irá desbancar a cortiça. Há todo um complexo de sofisticação, cultura e serviço em torno da rolha”, afirma Cabral.

Novas pesquisas atestam o crescimento da preferência pela rolha de cortiça, inclusive como um elemento agregador de valor ao vinho.

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O consumidor, hoje, de acordo com pesquisas internacionais, percebe o vinho selado com rolha de cortiça como um produto de maior qualidade e se dispõe até a pagar três dólares a mais por ele. “É um belo espetáculo abrir uma garrafa de vinho, ainda mais no Brasil, onde os consumidores da bebida são vistos como especiais e cultos”.

“Só que um saca-rolhas é acessível ao mais simples dos mortais e o vinho, especialmente na Europa, é uma bebida popular”, justifica. Hoje o consumidor começa a perceber, também, que a rolha de cortiça não apenas infere valor e glamour, mas também é um produto naturalmente ecológico. Sua produção libera menos carbono no processo, desde a árvore, de onde a cortiça é extraída, até a garrafa, bem menos do que os vedantes alternativos.  Além disso, seu uso acaba se tornando benéfico à natureza, já que as florestas de sobreiro (a árvore que produz a cortiça) são responsáveis pela manutenção de uma incrível biodiversidade, que abriga centenas de animais e outras plantas. E a boa notícia é que, nos últimos dez anos, a área do montado, ou seja, as florestas de sobreiros, tem crescido em média 3% ao ano. Nesse período, mais de 130 mil hectares foram plantados em Portugal e na Espanha. E cada hectare abriga de 120 a 150 sobreiros.

Obviamente eu valorizo muito as rolhas, principalmente nos vinhos de guarda ou que em toda a sua composição exijam um conjunto harmônico entre garrafa, rótulo, cápsula e rolha.

Amo pegar meu saca-rolhas e usar em um momento especial de consumo, meu momento, meu vinho, minha garrafa.

Para o Screwcap, não vejo problemas em vinhos a serem consumidos ainda na sua jovialidade, no âmbito do frescor e da modernidade.

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Sobre a APCOR 

A Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR) foi criada para representar e promover a Indústria de Cortiça Portuguesa e que nasceu em 1956, em Santa Maria de Lamas, conselho de Santa Maria da Feira, no coração da indústria da cortiça.

A APCOR possui mais de 270 associados, que representam 80% da produção nacional e 85% das exportações de cortiça e que cobrem todos os subsetores da indústria – preparação,
Promover e valorizar a cortiça e os seus produtos, assim como representar e apoiar as empresas do sector nos mais variados domínios são os objetivos da APCOR. Suas principais áreas de intervenção: Internacionalização; Inovação e Desenvolvimento; Informação; Serviços de Apoio; Qualidade; Contratação Coletiva; e Cooperação Institucional.

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